Após duas visitas ao Bairro da Liberdade, agendámos uma terceira para com o Cónego Francisco Crespo, responsável pela paróquia quer do Bairro da Liberdade, quer do Bairro da Serafina. Este é reconhecido pelos bairristas como um "pai" e dinamizador do Bairro desde 1977. Após algum tempo de conversa, para além de todas as histórias que nos contou, referiu-nos as condições degradantes em que os habitantes vivem, com as quais eles não se importam e informou-nos dos seus (mais recentes e mais antigos) feitos e ideais projectados em ambos os bairros. Mesmo depois do Senhor Padre nos fazer uma síntese da história do bairro, ofereceu-nos um livro que a relata mais ao pormenor.
Da nossa conversa com o Padre Crespo, citamos parte do que ele nos disse:
"Um bairro é um conjunto de famílias que se entreajudam mutuamente. Podem surgir bairros bons, menos bons ou maus. Os bairros bons têm atividades, têm vida e as pessoas ligam umas às outras. Os bairros maus deixam entrar o perigo da sociedade, droga, assaltos, prostituição… tornam-se guetos. (...) Este é um bairro com condições péssimas. As pessoas não têm interesse nem iniciativa, são pessoas muito passivas. Sempre à espera que a gente lhe faça as coisas. (...) É um bairro principalmente de idosos e crianças. Pessoas sem muita instrução e até analfabetas. As pessoas aqui ou se valorizam, como o Vitor Constâncio a trabalhar como subsecretário de Estado de Saúde, ou então ficam cá. Cá ficam, geralmente, as menos habilitadas. (...) Já foi e ainda é, mas menos, um centro de droga e alguma prostituição. No entanto, há um bom ambiente entre as pessoas. Melhorou desde o início do meu trabalho."
"A origem do nome do "Bairro da Liberdade" pode ter surgido de duas formas. A primeira história conta que possivelmente o porteiro do Aqueduto teve a liberdade de construir um casebre de baixo dos Arcos. A outra história é semelhante: consta que é pela liberdade (excessiva) exercida pelas pessoas que lá compraram terrenos. Com estes terrenos não tiveram qualquer restrição local na construção, tornando-os clandestinos."
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